Jó
O Livro de Jó (em hebraico: אִיוֹב, Iyov) é um dos livros da seção dos "Escritos" (Ketuvim) da Bíblia hebraica (Tanach) e o primeiro dos livros poéticos do Antigo Testamento da Bíblia cristã. Jó endereça o problema da teodiceia — a justificação da justiça de Deus à luz do sofrimento da humanidade — e é uma rica obra teológica que apresenta diversas perspectivas sobre a questão. O texto tem sido amplamente elogiado por suas qualidades, com Alfred Tennyson chamando-o de "o maior poema dos tempos antigos e modernos".
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Capítulo 19
1 : Porém Jó respondeu dizendo:
2 : Até quando atormentareis minha alma, e me quebrantareis com palavras?
3 : Já dez vezes me humilhastes; não tendes vergonha em me maltratar.
4 : Mesmo se eu tiver errado, meu erro cabe apenas a mim.
5 : Visto que vos exaltais contra mim, e contra mim usais minha desgraça,
6 : Sabei, pois, que foi Deus que me transtornou, e [com] sua rede me cercou.
7 : Eis que eu clamo: Violência! Porém não sou respondido; grito, porém não há justiça.
8 : Ele entrincheirou meu caminho, de modo que não consigo passar; e pôs trevas sobre minhas veredas.
9 : Ele me despojou de minha honra, e tirou a coroa de minha cabeça.
10 : Ele me derrubou por todos os lados, e pereço; e arrancou minha esperança como a uma árvore.
11 : E fez inflamar contra mim sua ira, e me considerou para consigo como a [um de] seus inimigos.
12 : Juntas vieram suas tropas; prepararam contra mim seu caminho, e se acamparam ao redor de minha tenda.
13 : Ele afastou meus irmãos para longe de mim; e os que me conheciam agora me estranham.
14 : Meus parentes [me] deixaram, e meus conhecidos se esqueceram de mim.
15 : Os moradores de minha casa e minhas servas me tiveram por estranho; estrangeiro me tornei em seus olhos.
16 : Chamei a meu servo, e ele não respondeu; de minha própria boca eu lhe suplicava.
17 : Meu hálito é estranho à minha mulher, e sou repugnante aos filhos de minha mãe.
18 : Até os meninos me desprezam; quando eu me levanto, falam contra mim.
19 : Todos os meus amigos próximos me abominam; e [até] aqueles que eu amava se viraram contra mim.
20 : Meus ossos se grudaram à minha pele e à minha carne; e escapei [só] com a pele de meus dentes.
21 : Compadecei-vos de mim, meus amigos, compadecei-vos de mim; pois a mão de Deus me tocou.
22 : Por que vós me perseguis como Deus, e não vos fartais de minhas carne?
23 : Ah se minhas palavras fossem escritas! Ah se fossem escritas em um livro!
24 : Que com ponta de ferro e com chumbo fossem esculpidas em pedra para sempre!
25 : Pois eu sei que meu Redentor vive, e ao fim se levantará sobre a terra;
26 : E mesmo depois de consumida minha pele, então em minha carne verei a Deus;
27 : Ao qual eu verei para mim, e meus olhos [o] verão, e não outro. [Isto é o que] minhas entranhas anseiam dentro de mim.
28 : Se disserdes: Como o perseguiremos? Pois a raiz do problema se acha em mim,
29 : Temei vós mesmos a espada; pois furor [há nos] castigos pela espada; para que [assim] saibais que [haverá] julgamento.