Jó
O Livro de Jó (em hebraico: אִיוֹב, Iyov) é um dos livros da seção dos "Escritos" (Ketuvim) da Bíblia hebraica (Tanach) e o primeiro dos livros poéticos do Antigo Testamento da Bíblia cristã. Jó endereça o problema da teodiceia — a justificação da justiça de Deus à luz do sofrimento da humanidade — e é uma rica obra teológica que apresenta diversas perspectivas sobre a questão. O texto tem sido amplamente elogiado por suas qualidades, com Alfred Tennyson chamando-o de "o maior poema dos tempos antigos e modernos".
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Capítulo 10
1 : Minha alma está cansada de minha vida. Darei liberdade à minha queixa sobre mim; falarei com amargura de minha alma.
2 : Direi a Deus: Não me condenes; faz-me saber por que brigas comigo.
3 : [Parece] -te bem que [me] oprimas, que rejeites o trabalho de tuas mãos, e favoreças o conselho dos perversos?
4 : Tens tu olhos de carne? Vês tu como o ser humano vê?
5 : São teus dias como os dias do ser humano, ou teus anos como os anos do homem,
6 : Para que investigues minha perversidade, e pesquises meu pecado?
7 : Tu sabes que eu não sou mau; todavia ninguém há que [me] livre de tua mão.
8 : Tuas mãos me fizeram e me formaram por completo; porém agora tu me destróis.
9 : Por favor, lembra-te que me preparaste como o barro; e me farás voltar ao pó da terra.
10 : Por acaso não me derramaste como o leite, e como o queijo me coalhaste?
11 : De pele e carne tu me vestiste; e de ossos e nervos tu me teceste.
12 : Vida e misericórdia me concedeste, e teu cuidado guardou meu espírito.
13 : Porém estas coisas escondeste em teu coração; eu sei que isto esteve contigo:
14 : Se eu pecar, tu me observarás, e não absolverás minha culpa.
15 : Se eu for perverso, ai de mim! Mesmo se eu for justo, não levantarei minha cabeça; estou farto de desonra, e de ver minha aflição.
16 : Se [minha cabeça] se exaltar, tu me caças como um leão feroz, e voltas a fazer em coisas extraordinárias contra mim.
17 : Renovas tuas testemunhas contra mim, e multiplicas tua ira sobre mim; combates vêm sucessivamente contra mim.
18 : Por que me tiraste da madre? [Bom seria] se eu não tivesse respirado, e nenhum olho me visse!
19 : Teria sido como se nunca tivesse existido, e desde o ventre [materno] seria levado à sepultura.
20 : Por acaso não são poucos os meus dias? Cessa [pois] e deixa-me, para que eu tenha um pouco de alívio,
21 : Antes que eu me vá para não voltar, à terra da escuridão e da sombra de morte;
22 : Terra escura ao extremo, tenebrosa, sombra de morte, sem ordem alguma, onde a luz é como a escuridão.